Forças da Natureza 2010

O Essencial, 2010. Óleo s/ tela 89 x 116cm

O Essencial, 2010. Óleo s/ tela 89 x 116cm

Sobre a pintura de Catarina Pinto Leite presente nesta exposição uma constatação é desde logo – e uma vez mais, assinalável, a de que a autora adquiriu uma competência técnica e mental de representação que lhe confere não só a maturidade, entendida como reconhecimento, como também uma viva capacidade de auto-crítica que lhe confere necessariamente a independência, desta vez enquanto condição indispensável para exercer livremente esta profissão. A coerência é assim a mesma que se encontra em toda a obra de Catarina, nela sobressai ainda o vigor idêntico ao de Turner, o gestual expansivo e decisor que marca a obra não vai conhecer retrocesso, porque a intuição está lá desde aquele momento sobrenatural do olhar sobre a tela intocada.

Desta vez as obras apresentadas são objecto de um aparente minimalismo resultante da ausência de cor. Mas os densos tons de escuro e a leveza das velaturas cinzentas expressam profundidades diversas. É esta intencionalidade que dá lugar à interioridade destas paisagens. Porque estes nocturnos provêm do mais íntimo sentimento e são a expressão do que a artista quer partilhar connosco. Os vultos que sobressaem na paisagem, originados pelo gesto inicial, poderão ser rochas – que poderão ser corpos, serão também vagas intencionais, ainda que oníricas, sobre a expressão da vida interior, sobre uma noite sonhada uma e outra vez. Esta ancestralidade será assim e também o reflexo de toda obra anterior da artista, daí também a sua pertinência.

A paisagem está agora despojada de toda a intenção de natureza realista, já de tudo o que não é essencial. Esta sua transfiguração permitirá agora todas as interpretações, abrindo para um universo maior de abstracção. Será este o maior mérito, o de comunicar livre e generosamente, num contexto de partilha, o que poucos sabem expressar mas que muitos podem reconhecer na sua intimidade.

Aqui residirá o diálogo com o visitante.

Martim Lapa
Lisboa, Novembro de 2010