Onde será que me encontro?
“…Faço paisagens com o que sinto” dizia Fernando Pessoa.
Questiono-me muitas vezes e muitas vezes me questionam também!
São pinturas alegres ou tristes, são claras ou escuras, são poesia ou música, vêm de dentro ou de fora, são pinturas que convidam à meditação ou ao sonho?
Penso que a paisagem pode ser vista de duas formas:
A primeira é aquela em que a natureza em si, é a fonte de inspiração, é aquilo que se vê, mensurável e independente de nós (real e objectivo) e a segunda a paisagem poética, subjectiva e espiritual que surge a partir de sensações vividas e sentidas.
Em oposição à arte renascentista, na qual se procurava sistemática e conscientemente o equilíbrio entre a razão e o sentimento, está a pintura romântica, onde o emocional prevalecia sobre o racional.
Escritores, filósofos, pintores, músicos e outros vieram “revolucionar” as ideias e os ideais da época. No caso da pintura, as paisagens sofreram grandes alterações desde aí até aos nossos dias. A subjectividade e as emoções de cada artista são transpostas para a tela e cada um pinta o que lhe vai na alma e interpreta a natureza de diferentes formas.
Sinto de facto muito a natureza. Que ela habita em mim assim como a música e a escrita.
Tudo o que é subjectivo, espiritual, abstracto e misterioso fascina-me. A ideia de que tem que haver uma explicação para tudo, a obsessão dos conceitos, assusta-me. Porquê? Para quê?
O inesperado e o desconhecido que tantas vezes desestabilizam também são fonte de criatividade, de energia e de vida.
Como dizia Oscar Wilde, – “se você não consegue entender o meu silêncio de nada irá adiantar as palavras, pois é no silêncio das minhas palavras que estão todos os meus maiores sentimentos.
Acho que é neste circuito que me encontro, e neste silêncio que me refugio, no mundo das formas e das cores, das sugestões e das abstracções, das penumbras, das sombras e das luzes.
Através da pintura posso atravessar o deserto, escutar o silêncio e reencontrar-me.
Catarina Pinto Leite
Setembro 2009.